.

.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A poça de água !



Estava um tempo apático e cinzento no exterior. Os cedros dançavam ao sabor do vento, melancolicamente, e os pássaros fugiam angustiados pela impaciência do vento. O tempo estava incolor e solitário.
 Enquanto tirava a nota da carteira para pagar ao cabeleireiro meti os óculos no meu rosto já mais alegre e olhei para o espelho: estava um corte porreiro.
Abri a porta que dava para o exterior e bateu-me de frente uma brisa gélida, estremeci um pouco, e avançei.
 Enquanto aguardava pela boleia sentei-me numa escada ao pé de um salão que mostrava na porta Reumatologia / Psicologia Clinica e ao lado destes nomes estavam outros: homeopatia, shiatsu, acupuntura, fisioterapia, massagem e suplementos dietéticos. Os nomes estavam pintados com tinta amarela, mas aquele nome era-me muito estranho. Shiatsu?! Deduzi que fosse algo relacionado com o japonês e que devia ser algum tipo de massagem. Mas o significado em si é a pressão ("Atsu") exercida com os dedos ("Shi").
Olhei para o chão, suspirei. Dei com o meu traseiro frio mas contive-me, continuei sentado na esperança que aquilo passa-se. Foi então que tirei o telemóvel do bolso para ver se me distraía um pouco. Desbloqueei o telemóvel e fui para as aplicações jogar “Trees of doom”. Um jogo cujo objectivo, é trepar sobre duas árvores gigantes passando por diferentes obstáculos, com um ninja de fato escuro.
Momentaneamente desviei o olhar do dispositivo e lá além vislumbrei na rua uma poça a boiar na estrada. Era grande e a água nela contida era de cor negra como o petróleo. No momento em que olhei para a poça estavam paradas duas pessoas a cochichar, era um homem e uma mulher ambos na casa dos 40 anos. Apresentavam roupas sujas e a cara borratada com tinta preta, deduzi que eram pessoas simples e trabalhadoras. Estavam ali paradas como se algum polícia os tivesse intersectado ou como se aquele sítio fosse o seu local de trabalho. Os petroleiros.
Num movimento muito rápido  ele “mete a pata na poça” e com delicadeza limpa a bota suja com terra. Olhou à volta, voltaram ambos a cochichar e foram-se embora.  

Foi naquela poça de água, preenchida  pela paciência do tempo, onde passaram centenas de carros e onde aquele homem fez uma simples coisa. Limpar a bota. E ali esteve, está e estará até ao final deste tempo triste de Inverno, a poça de água.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Translate